segunda-feira, 29 de abril de 2013

Maioridade Penal


Pra quem usa outros países como referência no debate sobre maioridade penal, aqui segue uma lista ampla sobre a legislação em vários países. Em 79% dos casos a maioridade penal é igual ou superior à definida pela legislação brasileira.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Fundiário

Mais uma vez as chuvas trouxeram catástrofes para nosso estado. Desta vez as vítimas habitavam a Região Serrana, ano passado Niterói. Além da causa, as duas tragédias tem outra semelhança, moradores de encostas foram dramaticamente atingidos, perdendo casa, emprego e família.

Como no ano passado, as autoridades culparam as vítimas por morar em áreas de risco. Não vamos aqui defender a ocupação de terrenos perigosos, nosso assunto é outro. Queremos questionar por que parte da população carioca constrói suas moradias nestes locais.

Desde a Lei de Terras, em 1850, a principal forma de aquisição da propriedade da terra no Brasil é a compra, acompanhada de outras formas como a herança. Esta lei transformou a terra em propriedade privada, ao contrário do que ocorria até então. Hoje, a propriedade é um direito garantido pela Constituição da República Federativa do Brasil. Nos cento e sessenta e um anos que passaram depois desta data, poucos brasileiros conseguiram tornar-se donos de terras. É fácil entender o porquê quando observamos a distribuição de renda em nosso país.

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O quadro acima mostra como a apropriação da renda ocorreu de de maneira desigual ao longo de vinte anos. Os dados para os anos anteriores a 1981, ainda no século XX, são diferentes, mas não muito animadores, os 10% mais ricos detinham aproximadamente 40% da renda nacional em 1960. Indícios do século XIX, poucos anos após a criação da Lei de Terras, apontam que no Rio de Janeiro os mais ricos apropriavam cerca de 60% da riqueza.

renda familiar

Com a concentração de renda e o acesso à terra por meio de compra, uma parcela enorme da população não possui condições financeiras para adquirir propriedade, seja para plantar ou para morar. O problema ocorre no campo tanto quanto nas cidades, apesar de ser maior nas cidades. Como não há a possibilidade de “não morar” ou simplesmente sumir por não ter uma propriedade, estes brasileiros habitam os locais que encontram disponíveis, de modo geral sem saneamento básico ou outros serviços públicos, e muitas vezes em áreas de risco.

O Ministério das Cidades elaborou um estudo em 2003 sobre o déficit habitacional no Brasil, calculando a quantidade de domicílios rústicos1, dos improvisados e da coabitação familiar. Foi constatado um déficit habitacional de 5.890.139 domicílios, sendo 4.140.088 em áreas urbanas e 1.750.051 em áreas rurais. Enquanto isso, temos 6.029.756 de domicílios vagos (desocupados ou usados ocasionalmente).

1 Domicílios rústicos são aqueles localizados em construções onde predomina paredes e cobertura de taipa, sapé, palha, madeira não aparelhada, material de vasilhame usado e piso de terra batida.

A constituição de 1988 garante o direito de propriedade como algo fundamental para a cidadania, mas como vimos, muitos cidadãos não tem acesso a esse direito, mesmo o déficit sendo menor que a quantidade de domicílios vagos. Mas esta mesma constituição estabelece que a propriedade deve atender uma função social.

Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Com base nisso, movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) revindicam uma solução para o problema que acompanha o Brasil desde o século XIX, pelo menos. O MST é o mais conhecido destes movimentos e atua nas áreas rurais, na maior parte das vezes por meio de invasão de terras improdutivas e pressionando o governo a implementar um projeto de reforma agrária.

Por não cumprirem sua função social, as terras improdutivas podem ser desapropriadas pelo governo, mediante pagamento de indenização ao proprietário.

As invasões de terras e mesmo as tentativas do governo e de parte dos legisladores para desapropriar ou avançar no processo de reforma agrária encontram resistência de proprietários de terras organizados em instituições como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a União Democrática Ruralista (UDR). Estas instituições também pressionam o governo e tem legisladores trabalhando por leis que defendam seus interesses.

O embate, porém, torna-se mais dramático em determinados momentos, quando ocorre violência entre os dois lados. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, entidade ligada à Igreja Católica que trabalha junto aos trabalhadores rurais desde 1975, o número de casos de violência contra a ocupação ou posse em 2009 foi de 751, com 25 assassinatos, 1841 famílias expulsas, casas e plantações destruídas.

Nas cidades o problema tem outra forma. Desde o século XIX começou a surgir no Rio de Janeiro, nos morros próximos às áreas urbanizadas, o processo de favelização. Escravos fugidos ocupavam quilombos periurbanos, onde podiam viver e arrumar trabalho, misturando-se com a população de escravos que viviam na cidade. Eram caçados pela polícia do Rio de Janeiro, mas contavam com a proteção oferecida pela mata dos morros, e muitas vezes com a ajuda de fazendeiros que utilizavam seus serviços no comércio. O número de moradores dessas áreas era aumentado por pessoas livres, mas sem dinheiro para morar em outros lugares.

Quando ocorreu o processo de abolição da escravidão, que vai de 1850 (proibição do tráfico de escravos) à 1888 (Lei Áurea), uma quantidade maior de pessoas acorreu à estas favelas, pois nada foi planejado para absorver os ex-escravos na sociedade e os fazendeiros preferiam trazer imigrantes europeus para trabalhar em suas terras.

Pouco depois, entre 1903 e 1906, a cidade do Rio de Janeiro passou por uma reforma promovida pelo presidente Rodrigues Alves, derrubando cerca de 1600 prédios, considerados velhos, que serviam de moradia à população pobre da cidade. Sem alternativa, parte desta população migrou para as favelas enquanto os que possuíam renda um pouco melhor mudaram-se para as zonas oeste e norte.

O problema na cidade crescia, mas nesta época a população Brasileira ainda era predominantemente rural. Este quadro alterou-se gradativamente ao longo do século XX, principalmente devido à industrialização nas cidades e à modernização no campo, pela qual o país passava. O fenômeno chamado Êxodo Rural levou para as grandes capitais uma grande quantidade de trabalhadores que buscavam ganhar a vida nas cidades e na década de 1960 a população urbana ultrapassou a população rural. A população brasileira também crescia a passos largos, saltando de 17.438.434 em 1900 para 70.191.370 de habitantes em 1960. Hoje são mais de 190 milhões.

Os novos habitantes das grandes cidades seguiram o caminho que já conhecemos. Devido às limitações de renda foram morar em bairros mais baratos ou nas favelas que se avolumavam. O poder público cuidou da questão, na maioria das vezes, como caso de polícia, tratando estas regiões como reduto de criminalidade, a exemplo do que era feito no século XIX com os quilombos periurbanos.

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Durante as décadas de 1960/70, foram tentadas políticas de remoção de favelas, expulsando moradores de suas casas, alocando-os em bairros distantes de seus trabalhos. Outra iniciativa de vários governos é a urbanização de favelas, oferecendo serviços de saneamento, energia elétrica, asfalto, etc. Mas estas políticas, sem melhora da renda, acabam resultando em remoção, por aumentar o custo de vida dos moradores, que passam a pagar por estes serviços. Energia elétrica é uma realidade comum à população das favelas cariocas, assim como outros serviços, mas nem sempre são pagos, pois os moradores fazem instalações sem as formalidades legais. As casas localizadas em favelas que recebem urbanização tem seu valor aumentado, ficando atraente para seus donos vendê-las e mudarem-se para outro lugar, sem os gastos causados pelas melhorias urbanísticas.

Este é o contexto em que pessoas buscam morar aonde conseguem, mesmo que lhes falte segurança ou permissão.

Bibliografia:

Alexandrino, Marcelo & Paulo, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.

Alves, José Eustáquio Diniz. As Características dos domicílios brasileiros entre 1960 e 2000 - Rio de Janeiro : Escola Nacional de Ciências Estatísticas, 2004.

Campos, Andrelino. Do Quilombo à Favela – A Produção do “Espaço Criminalizado” no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

Castro, Ana Célia Org. Desenvolvimento em debate: Paineis do desenvolvimento brasileiro II. Rio de Janeiro: Mauad: BNDES, 2002.

Fragoso, João & Florentino, Manolo. Uma sociedade comprometida com a exclusão.

Fundação João Pinheiro. Centro de Estatística e Informações. Déficit habitacional no Brasil / Fundação João Pinheiro,

Centro de Estatística e Informações. 2. ed. - Belo Horizonte, 2005.

Valladares, Lícia do Prado. Passa-se uma casa – Análise de programa de remoção de favelas do Rio de janeiro. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1980.

sábado, 27 de novembro de 2010

DH

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A discussão sobre DIreitos Humanos sempre descamba pra falta de sentido. A defesa dos direitos humanos é a defesa de DIREITOS contra crimes praticados, inclusive por quem faz parte do Estado. Defendo DH (não uso drogas nem trafico) e defendo a polícia honesta; não a polícia que se iguala aos criminosos, e que no final das contas vira problema para os honestos. O cidadão, quando tem seus direitos ameaçados de alguma maneira, recorre ao Estado e conta que ele os garanta. Mas quando o próprio Estado (por meio de seus funcionários) é o agente ofensor dos direitos o cidadão fica sem chão, vivendo situação de insegurança.

Nestes casos, quando o Estado passa de defensor a agressor, a quem podem recorrer os cidadãos? Aos defensores de direitos humanos, direitos que cabem à todos e que não cabe ao Estado decidir quando respeitar.

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Em nosso país, o desrespeito sempre foi claramente direcionado a grupos específicos da população a saber: negros ou pobres; negros e pobres; só pobres; só negros. No Rio de Janeiro o desrespeito aos direitos de brasileiros que carregam estas características, transformadas em estigmas, é claramente mais ostensivo nas favelas. Direito à vida, à liberdade, à inviolabilidade do lar são sistematicamente atropelados por quem tem a obrigação de garantí-los, geralmente com a desculpa de que moradores de favela são todos “marginais”. Sendo as vítimas bem definidas fica fácil saber quem precisa de proteção dos defensores de Direitos Humanos. Caso vivêssemos em uma ditadura teriamos que defender aqueles considerados criminosos pelo Estado ilegal.

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Conheço muitos que defendem a máxima "bandido bom é bandido morto" ao mesmo tempo que temem ser parados pela polícia, devido à má fama que os maus policiais emprestam à instituição, sem sequer perceber que ambas as coisas são faces da mesma moeda. Temem que a polícia descontrolada e ilegal se volte contra eles, mas insistem em argumentar que policiais podem julgar e condenar à morte, materialização do descontrole e da ilegalidade.

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Tenho amigos que estão nas ruas arriscando a vida para solucionar um problema que parte da polícia ajudou a criar seja por inépcia, corrupção ou por confundir política de extermínio com política de segurança pública. Quando defendo DH defendo a legalidade para todos, o que provavelmente teria salvo milhares de vidas nas últimas décadas. Continuo desejando boa sorte às forças policiais, mas uma boa sorte que vá além deste momento de crise. Que a PEC 300 passe, que o Estado invista cada vez mais em inteligência, formação e equipamentos de forma a garantir mais segurança ao trabalho cotidiano da polícia. Desejo, acima de tudo, boa sorte na terefa de velar pelos direitos de todos nós.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Medo, campanha e PNDHs

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Infelizmente assim segue a camapanha pró-Serra, sem nenhum cuidado com as afirmações feitas. Caso os correligionários de Serra,sejam estes por amor ou por acreditarem na falta de opção, resolvam melhorar o nível da discussão eu agradeço. O apoio consevador cristão a qualquer um dos candidatos, por histórico de ambos, não tem fundamento. O que vemos atualmente não passa de alianças puramente eleitorais, principalmente por parte do Serra, que de repente está do lado da Tradição, Família e Propriedade, e dos Malafaia. Oportunismo total. Não que a outra candidata esteja a salvo de alianças oportunistas, mas como falamos das que ocorrem com cristãos conservadores, calo sobre o resto. Sem contar o clima de terrorismo que dá o tom da campanha de Serra, como resultado destas alianças, que só atrapalha a democracia.

Muito deste terrorismo baseia-se no PNDH-3, do governo Lula. Segundo consta nas acusações que circulam pela rede, Lula e Dilma, palanejam permitir o casamento de homosexuais, aprovar o aborto, reprimir a liberdade religiosa e defender prostitutas. Tirando a repressão a liberdade religiosa, é tudo verdade, basta ler o Programa Nacional de Direitos Humanos 3 para conferir. A mentira está escondida no fato de que o governo FHC/Serra pensava diferente, e que portanto, para “defender a vida”, as “leis da natureza” e as “leis de Deus”, a única opção é votar no candidato do PSDB neste segundo turno. As liderenças que fazem esta pregação agem com inocência ou enganam seus fiéis (espero que seja a primeira opção, mas suspeito que não). Para tirar a dúvida sobre o que falo basta comparar o PNDH-3, do Lula, com o PNDH-2, do FHC. Caso você não seja afeito à este tipo de leitura, ou tenha preguiça mesmo, Carlos Lenz já se deu a este trabalho suas conclusões estão aqui.

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Sobre a liberdade religiosa, é um espanto a paranóia que ocupa a cabeça de parte dos cristãos, como se ainda vivessem na Roma Antiga. Não há noticias de indivíduo que tenha sofrido repressão qualquer do Estado, no Brasil recente, dentro de seu lar ou em espaços públicos, por praticar sua religião. Nenhuma igreja foi fechada. Os casos envolvendo prisões de religiosos, todos, devem-se ao desrespeito às leis penais, que são praticamente as mesmas desde 1940, tendo como exemplo o caso dos bispos da Igreja Renascer. Temos sim, casos de intolerância praticados por cristãos contra umbandistas que levaram a propostas de criação de uma delegacia para assuntos religiosos no Rio de Janeiro. Não se justifica a mania de perseguição.

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A tática do medo não é novidade no discurso político brasileiro. Foi com medo dos comunistas que a classe média apoiou a ditadura de 64. Com medo da favela muita gente vota em Bolsonaros. Na campanha de 2002, todos lembram, a atriz Regina Duarte fez o terrível papel de pessoa amedrontada com um possível governo de Luís Inácio. Na mesma campanha os “sábios” do mercado anunciaram os perigos do ex-operário chegar ao poder, as bolsas estremeceram, tudo parte das táticas terroristas eleitorais. O que vemos agora é repetição.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre Hoax e Bolsa Família

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Vou começar com esta coisa dos e-mails sem fundamento que invadem as caixas de entrada de todos nós, os hoax. Dizem que os dois lados envolvidos no segundo turno da eleição presidencial estão utilizando a corrente de e-mails para trocar difamações. Até agora, só recebi os que tentam queimar a Dilma, pelo menos dois por dia. Tem uma coisa organizada para cometer estas maluquices. Postei aqui, recentemente, sobre o apoio da Tradição, Família e Propriedade ao candidato Serra, através da utilização da internet para difamar a Dilma. Os argumentos, de maneira geral, são toscos, misturando fatos com invencionices, como o que afirma que no Brasil de Lula e Dilma as pessoas podem receber 1350 reais de assistência do governo.

A Assistência Social é uma das funções do governo, estabelecida constitucionalmente na Seguridade Social, e deve garantir aqueles que se encontram em situação de risco social. Não vejo como defender que uma família com renda per capita menor que 1/4 do salário mínimo não esteja em risco.

Para alguns, isto ocorre por culpa da própria família, que não estudou o suficiente ou não trabalha o suficiente. Para outros, como eu, não se trata de questão individual, mas sim um problema relativo às condições do país; logo, questão social. Para os primeiros, o Bolsa Família é um erro, pois beneficia o preguiçoso e ignorante que não aproveitou as possibilidades que existem para enriquecer e os estimula ao ócio. Para os segundos, é uma medida justa que garante uma vida mais digna e direitos básicos de todo ser humano a quem vive em um país com uma das maiores concentrações de renda do mundo.

Certa vez, uma aluna argumentou que a pessoa, recebendo Bolsa Família, não ia querer trabalhar. O BF aglutinou os outros auxílios do governo, como bolsa escola e auxílio gás e seu valor vai de 22 a 200 reais para pessoa com 3 filhos ou mais. Perguntei se a aluna aceitava uma aposta: ela saía de casa para viver com este dinheiro, sem aceitar mais nada dado por sua família, tendo que passar o mês inteiro comprando comida, pagando conta com esse valor. Ficou claro para ela que só com o BF não conseguiria. Deixar de trabalhar para viver somente com a bolsa não é viável para uma pessoa com 3 filhos. Agora, há, sim, uma crítica pertinente, levantada na revista Le Monde Diplomatique de uns meses atrás, sobre o Bolsa Família não estimular o trabalho com carteira assinada, pois esta poderia provar que muitas pessoas ultrapassam o limite estabelecido para merecer a ajuda, porém o resultado de empregados com carteira de trabalho tem aumentado nos últimos anos.

Mas quem paga a Bolsa, a classe média, os ricos? Todos que pagam impostos ajudam a sustentar o Programa e uma de suas funções declaradas é a transferência de renda; logo, seria justo que quem mais tem, mais contribuísse para o Programa. Sabemos que a estrutura tributária brasileira falha neste quesito, mas apesar de toda a choradeira da classe média, quem mais paga imposto em proporção à renda que recebe são os pobres. As pessoas que ganham até dois salários mínimos gastam 48,8% de sua renda com impostos diretos e indiretos, enquanto aqueles com renda superior a trinta salários gastam 26,3% (IPEA). Podemos concluir então que os pobres são mais responsáveis pelos benefícios que recebem do que os outros estratos sociais, o que é um contrassenso não combatido por governo algum e que sequer foi discutido com seriedade pelos candidatos à presidência da República nessas eleições, com exceção do Plínio Sampaio.

Acusar o governo de comprar votos com o Bolsa Família é tratar as pessoas como fantoches. Há mais de um século existe a República e segundo artigo dos professores João Fragoso e Manolo Florentino (História/UFRJ), sobre distribuição de renda no Brasil, durante todo este tempo não houve mudança na distribuição de renda em nosso país até os anos recentes, em que isto tem ocorrido devido principalmente ao Bolsa Família. Não é estranho que os milhões de excluídos brasileiros votem em quem reforçou as políticas de proteção que melhora suas vidas depois de tantos governos falharem nesta missão.

Sobre não haver um plano de saída, bom, na verdade tem. Basta fazer com que as pessoas não se enquadrem mais nas características que possibilitam pleitear a bolsa. Ou seja, melhorar a distribuição de renda, sem que isto exclua a proteção a quem continuar precisando. A proteção social e a distribuição de renda não se negam uma a outra.

Para dúvidas sobre o valor da bolsa acesse http://www.mds.gov.br/bolsafamilia

Para Estado e assistência, consulte a Constituição de 1988, na parte sobre seguridade social.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Serra, Tradição, Família e Propriedade

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Em 1964 nosso país sofria um golpe contra a democracia. O presidente João Goulart, que ocupava o cargo assumido de forma constitucional, foi deposto pelas forças armadas do Brasil. O argumento era uma coisa meio louca de se pensar, um “golpe preventivo”, algo como acabar com a democracia antes que outro o faça. Sabemos que não havia risco de golpe, mas isso não impediu que grupos organizados saltassem em defesa do golpe. A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade foi uma destas.

A TFP havia sido fundada em 1960 com o objetivo de “combater a vaga do socialismo e do comunismo e ressaltar, a partir da filosofia de são Tomás de Aquino e das encíclicas, os valores positivos da ordem natural, particularmente a tradição, a família e a propriedade”. Combateu o catolicismo com engajamento social da CNBB dos anos 60 e criticou os papados de João XXIII e Paulo VI.

Agora vem a pergunta. Adivinha onde está a TFP hoje (06/10/2010)?

Leiam abaixo a matéria de Fernando Rodrigues (UOL) para saber.

Panfleto pró-TFP circula em reunião de cúpula tucana

texto incita militantes a divulgar na web que plano de Dilma inclui perseguir cristãos, legalizar aborto e prostituição

Participantes da reunião de cúpula da campanha de José Serra (PSDB) hoje (6.out.2010), em Brasília, receberam um panfleto com instruções sobre como propagar uma campanha anti-Dilma na internet. Num dos trechos, recomenda aos militantes visitarem o site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, um dos fundadores da TFP ( Sociedade Brasileira de Defesa de Tradição, Família e Propriedade), uma das mais conservadores agremiações do país.

O panfleto basicamente se refere ao PNDH-3 (Programa Nacional de Direitos Humanos), lançado pelo governo Lula no final do ano passado. Eis um dos trechos do panfleto divulgado na reunião tucana:

O PNDH-3 é um projeto de lei que tem por objetivo implantar em nossas leis a legalização do aborto, acabar com o direito da propriedade privada, limitar a liberdade religiosa, perseguir cristãos, legalizar a prostituição (e onde fica a dignidade dessas mulheres?), manipular e controlar os meios de comunicação, acabar com a liberdade de imprensa, taxas sobre fortunas o que afastará investimentos, dentre outros. É um decreto preparatório para um regime ditatorial”.

O blog estava dentro da sala do centro de convenções Brasil 21 na qual se realizou o encontro tucano. Por volta das 16h10, antes de a imprensa ser admitida no recinto, uma mulher com adesivo de Serra colado no peito distribuiu o bilhete. “Pega e passa”, dizia.

Era do tamanho de um papel A4 dividido ao meio. Mais tarde, uma pequena pilha (cerca de 3 cm de altura) com esses panfletos foi deixada ao lado do local onde era servido café –e a imprensa teve livre acesso. Ao final, o texto recomenda: “Divulgue esta informação através das redes sociais da internet (blogs, Orkut...)”.

Segundo as assessorias do PSDB nacional e do candidato José Serra, a confecção do panfleto não tem relação com o partido nem com a campanha tucana. Ainda assim, o papel ficou à disposição de quem tivesse interesse em pegar. Os panfletos só foram retirados um pouco depois de o Blog ter perguntado à cúpula tucana a respeito do assunto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

De Florentinas e Freixos

De Florentinas e Freixos foram preenchidas as casas legislativas.

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Sabe-se lá por quê, São Paulo insiste na brincadeira. Primeiro Enéas com votação recorde, carregando nas costas todo o partido. Depois Clodovil, também o mais votado. Agora Tiririca, com mais de um milhão de votos, arrebatando as urnas paulistas e entrando no congresso sem nem sequer saber o que fazem os deputados federais. De quebra ainda carregou mais vinte companheiros de partido. Gozação, protesto, seja lá o que for, fico com a impressão de que São Paulo merece Maluf.

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As frutas da eleição caíram do pé. Mulher Melão e Mulher Pêra, vejam só, não demonstraram dotes eleitorais. Com votação irrisória, as moças não serviram nem como puxadoras de legenda para seus partidos.

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Garotinho conquistou mais de meio milhão de votos, outro caso que gera estranheza. Lembro de um comentário lido no twitter que era mais ou menos assim: “É triste precisarmos de uma lei que impeça os eleitores de votarem em candidatos criminosos”. O voto em Garotinho demonstra esta realidade infeliz, para muitos eleitores não importa ficha policial do candidato. Se o Estado não interferir, será vontade popular passar quatro anos pagando salário a criminosos. Talvez as mesmas pessoas que reclamam de o Estado gastar 1.200 reais, em média, com cada pessoa presa no país, escolhem pagar cerca de 13 mil reais para um condenado permanecer solto, intocável devido à imunidade parlamentar por pelo menos quatro anos.

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Em meio a tantas vergonhas, um orgulho fica. Marcelo Freixo eleito com mais de 177 mil votos. Depois de uma campanha financeiramente pobre, foram quatro anos de trabalho batalhando para não ser mais “colega de trabalho” de gente como Babu e Álvaro Lins. Quatro anos de ameaças sofridas, vida vigiada por seguranças, controle das ações do Estado e defesa dos direitos humanos. Quatro anos e mais uma campanha sem dinheiro, novamente carregada por quem acredita no trabalho de Marcelo e pela coragem do próprio. De boca em boca os votos passaram de 13 mil em 2006, para quase 200 mil em 2010. Conseguimos Marcelo por mais quatro anos na Assembléia, dessa vez ladeado por Janira Rocha, companheira de PSOL.

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Ficamos com a boa prova de que é possível campanha sem financiamentos comprometedores provenientes de empresas variadas engajadas em privatizar o que é público, de maneira aberta ou às escuras. Campanha limpa é viável. Político sério também.